segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O SABER E O PRESSUPOR


“Conheça-se a si mesmo”

Sócrates

“Pressuponha-se a si mesmo”

Senso Comum

O SABER E O PRESSUPOR,

  me foi enviado pelo escritor Mário Nitsche, meu dileto amigo.

Embora eu tenha feito um pequeno resumo, mantenho a autenticidade do texto para que possam apreciar a essência do escritor.

Quero ressaltar em Saber e Pressupor, a atenção necessária na arte de Interpretar Sinais.

Acredito que nada acontece por acaso e que a Vida sinaliza a nossa caminhada, mas é preciso ter cuidado ao interpretar os sinais. Concordo com o escritor Claudio Moreno quando diz:

“Minhas crenças e expectativas, como uma lente defeituosa, distorcem o que me chega de fora, e eu termino enxergando só o que eu esperava enxergar.”

Esse é o perigo! Distorcemos os sinais ao tentar interpretá-los de acordo com os nossos desejos. Várias coisas podem criar ilusão, portanto, não persiga uma miragem, não deixe que seus desejos interfiram na sua intuição.

Mário Nitsche nos conta, de forma leve e divertida, como os persas “interpretaram o sinais” quando invadiram a terra dos citas.

 

“Os citas eram guerreiros ferozes. Hábeis cavaleiros. Usavam uma espada de dois gumes de uns setenta centímetros e não se separavam dela nem mesmo na lua do mel.  Eram espadas! Ser cita era assim mesmo, pô. Notabilizaram-se por distender arcos que atiravam flechas a mais de quatrocentos metros e acertavam.

 Heródoto conta que Dario juntou um formidável exército e invadiu a terra dos citas.  Eles começaram a recuar... recuar. Dario foi indo, indo. Um dia quando as tropas Persas estavam no coração do território cita, estes mandaram por um emissário um presente ao grande rei. Um pássaro, um rato, uma rã e cinco flechas. Dario perguntou o que significava o presente e o mensageiro garantiu que a sabedoria dos persas iria entender perfeitamente a mensagem. O rei reuniu os seus sábios, religiosos, sacerdotes e começaram a buscar o conteúdo da coisa.

 Pensaram... Pensaram, refletiram. Consultaram os textos religiosos, escrituras, conselheiros. Fizeram cultos, sacrifícios, teologizaram pacas. A revelação veio com grande ânimo ao rei e a todos.

 Simples de tudo, meu. O rato vive na terra e a rã – e todos sabem disso, na água. Terra e água eram o que se enviava a um rei como sinal de submissão. O melhor ainda: as flechas famosas. Os citas iam entregar as suas armas. O pássaro: o processo seria rápido. Maravilha. Ter um grande exército, muita grana e bons conselheiros espirituais ajuda na vida é tudo de bom.

Alegria, só alegria e os soldados e oficiais mandaram e-mails para casa avisando que logo voltariam para contar suas aventuras gloriosas num bom churrasquinho.

 Gobrias um conselheiro sábio procurou o rei e os seus ajudantes e levantou outra possibilidade:

 - Será que a mensagem não poderia ser essa? – Disse ele com a cabeça respeitosamente abaixada perante o portentoso Dario.

 “A não ser que vocês se transformem em aves e voem, ou em ratos e embarafustem-se chão adentro; ou rãs e refugiarem-se nos charcos, saibam que nunca mais sairão da nossa terra. Morrerão transpassados pelas nossas flechas.”

 Quase que o pobre Gobrias perdeu o emprego e ficou sem o seu INSS e aposentadoria. Falaram mal dele até: Um homem sem fé!  

 O tempo não passou muito e milhares de soldados persas foram mortos e seus restos ficaram para sempre enterrados ou cremados na terra dos citas. Poucos escaparam. Gobrias estava certo.  É... Nunca mandar e-mails otimistas antes de uma batalha.

 O escritor gaúcho Cláudio Moreno que passou o recado de Heródoto, diz:

 “Pois aquele espaço indefinido entre o que os citas disseram e o que os persas entenderam representa uma das maiores aflições da condição humana. [...] Minhas crenças e expectativas, como uma lente defeituosa, distorcem o que me chega de fora, e eu termino enxergando só o que eu esperava enxergar.”

Dario com tudo que era tinha e representava, pressupôs que os citas estavam se entregando e não prestou atenção no rato e na rã e sim se lembrou da terra e água que eram os sinais clássicos de submissão!  Viu e entendeu o que quis! Os citas, gentilmente, pelo seu lado comunicavam que estando o rei no coração do reino deles

e com os suprimentos cortados na retaguarda e os homens cansados, eles iriam começar a usá-los como bons alvos e, de preferência, acabar com eles a não ser que fugissem como os bichinhos mencionados.

Os citas eram bons de briga, inteligentes e irônicos! Gente fina...

O ser humano não sabe: ele, historicamente, desde o tempo de Adão e Eva... pressupõe, e o pior, age e entra em grandes projetos com base em pressuposições! A vida de um homem, então, torna-se a consequência das suas pressuposições decididas e vividas!

Se você receber um pacote com um pássaro, um rato, uma rã e cinco flechas... Cuidado. Pense! Não pressuponha. Não toque no rato. Ele pode transmitir peste bubônica! Mande as flechas para mim. Tenho uma parede aqui onde elas ficariam lindas.

 Cara, e agora o pulo do gato! Se você ganhar o equivalente a mensagem dos citas: silêncio, esquecimento; algum trecho de um livro ou manual sacro para você se amoldar nele... Verifique, pergunte e se inteire. Ponha as barbas de molho. Você pode ser alvejado de muitas outras maneiras! Os citas eram adversários leais. Muita gente não.”

 Boa sorte!

 

5 comentários:

  1. Odara minha amiga.
    Que prazer, que privilégio ver uma crônica minha aqui no seu bonito e inteligente blog. Muito obrigado. Concordo com você... cuidado com sinais!
    Um abração
    Mario

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    1. Mário, o privilégio é meu em receber de presente, para o meu blog, uma crônica sua. Grande abraço

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Verdade! Não sei porque a gente tem uma tendenciazinha a acreditar somente naquilo em que quer acreditar. Não passa pela nossa cabeça outras possibilidades. É a ideia de que só pode acontecer o "possível". Aí, eu lembro de outro conto do Mário que fala sobre o imponderável. Legal!

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