“Conheça-se a si mesmo”
Sócrates
“Pressuponha-se a si mesmo”
Senso Comum
O SABER E O PRESSUPOR,
me
foi enviado pelo escritor Mário Nitsche, meu dileto amigo.
Embora eu tenha feito um pequeno resumo, mantenho
a autenticidade do texto para que possam apreciar a essência do escritor.
Quero ressaltar em Saber e Pressupor, a atenção necessária na arte de Interpretar Sinais.
Acredito que nada acontece por acaso e que a
Vida sinaliza a nossa caminhada, mas é
preciso ter cuidado ao interpretar os sinais. Concordo com o escritor
Claudio Moreno quando diz:
“Minhas crenças e expectativas, como uma lente
defeituosa, distorcem o que me chega de fora, e eu termino enxergando só o que
eu esperava enxergar.”
Esse é o perigo! Distorcemos os sinais ao tentar
interpretá-los de acordo com os nossos desejos. Várias coisas podem criar
ilusão, portanto, não persiga uma miragem, não deixe que seus desejos
interfiram na sua intuição.
Mário Nitsche nos conta, de forma leve e divertida,
como os persas “interpretaram o sinais” quando invadiram a terra dos citas.
“Os
citas eram guerreiros ferozes. Hábeis cavaleiros. Usavam uma espada de dois
gumes de uns setenta centímetros e não se separavam dela nem mesmo na lua do
mel. Eram espadas! Ser cita era assim mesmo, pô. Notabilizaram-se por
distender arcos que atiravam flechas a mais de quatrocentos metros e acertavam.
Heródoto
conta que Dario juntou um formidável exército e invadiu a terra dos
citas. Eles começaram a recuar... recuar. Dario foi indo, indo. Um dia quando
as tropas Persas estavam no coração do território cita, estes mandaram por um
emissário um presente ao grande rei. Um pássaro, um rato, uma rã e cinco
flechas. Dario perguntou o que significava o presente e o mensageiro garantiu
que a sabedoria dos persas iria entender perfeitamente a mensagem. O rei reuniu
os seus sábios, religiosos, sacerdotes e começaram a buscar o conteúdo da
coisa.
Pensaram...
Pensaram, refletiram. Consultaram os textos religiosos, escrituras,
conselheiros. Fizeram cultos, sacrifícios, teologizaram pacas. A revelação veio
com grande ânimo ao rei e a todos.
Simples
de tudo, meu. O rato vive na terra e a rã – e todos sabem disso, na água. Terra
e água eram o que se enviava a um rei como sinal de submissão. O melhor ainda:
as flechas famosas. Os citas iam entregar as suas armas. O pássaro: o processo
seria rápido. Maravilha. Ter um grande exército, muita grana e bons
conselheiros espirituais ajuda na vida é tudo de bom.
Alegria,
só alegria e os soldados e oficiais mandaram e-mails para casa avisando que
logo voltariam para contar suas aventuras gloriosas num bom churrasquinho.
Gobrias
um conselheiro sábio procurou o rei e os seus ajudantes e levantou outra
possibilidade:
-
Será que a mensagem não poderia ser essa? – Disse ele com a cabeça
respeitosamente abaixada perante o portentoso Dario.
“A
não ser que vocês se transformem em aves e voem, ou em ratos e embarafustem-se
chão adentro; ou rãs e refugiarem-se nos charcos, saibam que nunca mais sairão
da nossa terra. Morrerão transpassados pelas nossas flechas.”
Quase
que o pobre Gobrias perdeu o emprego e ficou sem o seu INSS e aposentadoria.
Falaram mal dele até: Um homem sem fé!
O
tempo não passou muito e milhares de soldados persas foram mortos e seus restos
ficaram para sempre enterrados ou cremados na terra dos citas. Poucos
escaparam. Gobrias estava certo. É... Nunca mandar e-mails otimistas antes
de uma batalha.
O
escritor gaúcho Cláudio Moreno que passou o recado de Heródoto, diz:
“Pois
aquele espaço indefinido entre o que os citas disseram e o que os persas
entenderam representa uma das maiores aflições da condição humana. [...] Minhas
crenças e expectativas, como uma lente defeituosa, distorcem o que me chega de
fora, e eu termino enxergando só o que eu esperava enxergar.”
Dario
com tudo que era tinha e representava, pressupôs que os citas estavam se
entregando e não prestou atenção no rato e na rã e sim se lembrou da terra
e água que eram os sinais clássicos de submissão! Viu e entendeu o
que quis! Os citas, gentilmente, pelo seu lado comunicavam que estando o rei no
coração do reino deles
e
com os suprimentos cortados na retaguarda e os homens cansados, eles iriam
começar a usá-los como bons alvos e, de preferência, acabar com eles a não ser
que fugissem como os bichinhos mencionados.
Os
citas eram bons de briga, inteligentes e irônicos! Gente fina...
O
ser humano não sabe: ele, historicamente, desde o tempo de Adão e Eva...
pressupõe, e o pior, age e entra em grandes projetos com base em
pressuposições! A vida de um homem, então, torna-se a consequência das suas
pressuposições decididas e vividas!
Se
você receber
um pacote com um pássaro, um rato, uma rã e cinco flechas... Cuidado. Pense!
Não pressuponha. Não toque no rato. Ele pode transmitir peste bubônica! Mande
as flechas para mim. Tenho uma parede aqui onde elas ficariam lindas.
Cara,
e agora o pulo do gato! Se você ganhar o equivalente a mensagem dos citas: silêncio,
esquecimento; algum trecho de um livro ou manual sacro para você se amoldar
nele... Verifique, pergunte e se inteire. Ponha as barbas de molho. Você pode
ser alvejado de muitas outras maneiras! Os citas eram adversários leais. Muita
gente não.”
Boa
sorte!
Odara minha amiga.
ResponderExcluirQue prazer, que privilégio ver uma crônica minha aqui no seu bonito e inteligente blog. Muito obrigado. Concordo com você... cuidado com sinais!
Um abração
Mario
Mário, o privilégio é meu em receber de presente, para o meu blog, uma crônica sua. Grande abraço
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirVerdade! Não sei porque a gente tem uma tendenciazinha a acreditar somente naquilo em que quer acreditar. Não passa pela nossa cabeça outras possibilidades. É a ideia de que só pode acontecer o "possível". Aí, eu lembro de outro conto do Mário que fala sobre o imponderável. Legal!
ResponderExcluirEssa nossa tendência acaba atrapalhando tudo, rsss
Excluir